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Uma onça-pintada foi capturada na madrugada desta
quinta-feira (24/04) após atacar e matar Jorge Avalo, um caseiro de 60
anos, às margens do rio Miranda, em Aquidauana, no Pantanal. O felino,
um macho, apresenta peso significativamente abaixo do ideal, com 94 kg,
enquanto o esperado seria ao menos 120 kg.
A
operação de captura, conduzida pela Polícia Militar Ambiental de Mato
Grosso do Sul, resultou na transferência do animal para o Centro de
Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS), em Campo Grande, onde será
submetido a uma avaliação de saúde completa.
Gediendson Araújo, professor e pesquisador especialista em animais de
grande porte, explicou que o objetivo é identificar doenças que possam
justificar a magreza atípica do felino. "Como é um
caso muito atípico, a partir da avaliação clínica e de sanidade, vamos
ver qual doença que ele tem, porque não é normal o animal desse porte
estar tão magro, e assim poderemos tentar relacionar ao caso",
afirmou Araújo.
Araújo
também abordou a perda de medo do animal em relação aos humanos, um
fator que contribuiu para o incidente. "O animal
perdeu o medo de ver o homem como um predador, e acabou tendo essa
situação com esse desfecho. Então a coisa é incomum de acontecer, são
poucos os relatos, e é uma pena que teve uma perda humana",
lamentou.
O
biólogo Thiago Leite, diz que o caseiro foi vítima de ataque predatório.
Segundo Tiago Leite, que é coordenador técnico do Instituto Profauna e
biólogo especialista em Ecologia e Monitoramento Ambiental, incluindo de
felinos, já existe um consenso entre pesquisadores que acompanham o caso
de que corpo da vítima serviu de alimento ao animal.
"A onça capturada estava bem magra, o que,
potencialmente, pode ter contribuído com o ataque. Um animal magro pode
já ser mais idoso ou que está passando por algum tipo de problema e,
portanto, poderia estar tendo dificuldade de capturar suas presas
habituais no ambiente natural. Isso pode tê-lo levado a buscar fontes de
recurso mais fácil, como uma presa humana. Mas isso são só hipóteses,
não é possível ter certezas neste momento", afirma Tiago.
A
Polícia Militar Ambiental alertou sobre práticas ilegais de ceva, que
consistem em alimentar animais para facilitar sua visualização,
alterando seu comportamento natural e associando humanos a comida, o que
aumenta o risco de ataques. Um vídeo do Instituto Homem Pantaneiro (IHP),
publicado em julho de 2020, já alertava sobre os perigos dessa prática
na região do ataque.
Jorge
Avalo, caseiro do pesqueiro Barra do Touro Morto, localizado no
Pantanal, foi vítima de um ataque fatal por uma onça-pintada. O
incidente foi divulgado na terça-feira (22/04), após a descoberta dos
restos mortais de Avalo.
A busca pelo caseiro começou na segunda-feira
(21/04), quando visitantes notaram sinais de sangue e pegadas de animal
nas proximidades do local de trabalho da vítima. Avalo foi encontrado a
cerca de 300 metros de distância do pesqueiro, em uma área de mata
fechada, com sinais que indicavam que ele teria sido arrastado.
Uma
semana antes do ataque, um vídeo mostrou Avalo apontando para pegadas de
duas onças perto de sua residência. Ele mencionou uma possível disputa
entre os animais. As marcas no solo indicavam a presença freqüente
desses predadores na região.
Especialistas em fauna selvagem comentaram sobre o
comportamento da onça-pintada. Gustavo Figueirôa, diretor do SOS
Pantanal, afirmou que este felino é reservado e normalmente evita
contato com humanos. "É um felino reservado, que evita o contato com as
pessoas e não apresenta ameaça direta quando não há uma provocação ou
interferência humana".
Luiz Pires, zootecnista, destacou que a
destruição dos habitats naturais dos animais reduz a disponibilidade de
alimento, forçando-os a se aproximar de áreas habitadas em busca de
presas. "Infelizmente, muitos empreendimentos são
erroneamente construídos nas áreas de preservação ambiental, locais de
passagem constante desses animais em busca de suas presas", diz.
"Assim, acidentes que antes eram raríssimos só
aumentam, uma vez que o homem antes era temido e agora passa a fazer
parte da paisagem natural desses animais".
Fonte: Jornal O Tempo
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