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Jornal Rede Metrópole
Litoral:
07/12/2025 |
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Fotos: Reprodução Internet
FRANKENSTEIN DE GUILLERMO DEL
TORO:

Em mais
uma adaptação, a história do médico que dá vida a uma criatura feita
de pedaços mortos, impressiona com a fidelidade ao livro original.
Ainda assim, traz novas partes exclusivas para o cinema -
Frankenstein é uma obra atemporal.
Escrito
magistralmente pela autora Mary Shelley quando tinha apenas 21 anos,
o clássico ganha uma nova vida no cinema sob a direção do experiente
e aclamado Guillermo Del Toro (O Labirinto do Fauno, A Forma da
Água).
Desde
1818 até agora, o clássico desperta admiração, horror e reflexões
sobre o bem e mal, o arrependimento humano e os limites da ambição e
do poder. Na versão para o cinema de 2025, a produção foca em
intensificar os elementos desses questionamentos para que o público
descubra as respostas por si só.
As
incertezas e a dualidade entre quem de fato é o herói e quem é o
vilão, e quais motivações são justificáveis participam da obra tanto
nas falas e ações das personagens quanto na própria composição
artística do que vemos e ouvimos nos cenários e figurinos. As cores
contrastam entre o vibrante e o sombrio, os cenários entre a vida e
desolação. O som vai da tranqüilidade ao caos, e o elenco exibe
diferentes facetas da humanidade com performances viscerais.
A
produção expande motivações e personagens sem perder a essência do
livro: a reflexão das ambições, conquistas humanas e suas
conseqüências. Ao mesmo tempo, diminui uma longa série de
acontecimentos na literatura para intensificar o núcleo principal de
drama e ação (para não dizer arrependimento e comoção) na trama do
cinema.
Victor
Frankenstein é interpretado em sua juventude com inocência e
brilhantismo pela ótima performance de Christian Convery (Sweet
Tooth), e em sua fase adulta, pela obcecada e intensa atuação de
Oscar Isaac (Ex Machina e Star Wars).
Em
muitos momentos, com sua presença física e concentração intelectual,
Oscar parece realmente estar dedicado a busca de dar vida a uma
criatura a partir de sua ciência inovadora enquanto rodam as
câmeras; a motivação do Dr. Frankenstein também é de grande destaque
no filme.
Mesmo
após séculos de leitura, muitos parecem não compreender o que
realmente motiva o personagem, além de uma “loucura injustificável”.
O novo filme esclarece e reforça esse ponto. O cientista é genial,
egocêntrico e audacioso, mas não apenas um louco desmedido.
Embora
com algumas modificações na origem do personagem, o fator principal
que inicia a trama tem sua semente plantada logo na infância de
Victor Frankenstein. A relação tão carinhosa com sua mãe é um alento
na sua juventude, em que seu pai, por outro lado, implica com
severidade nos critérios e na imagem de superioridade que seu filho
deveria alcançar, mais do que o valor de quem ele realmente é.
Desperto
para suas perseguições após a perda da vida de sua mãe tão querida,
o jovem Victor se impõe o destino de vencer a morte. E desde esse
início da produção, Del Toro e sua equipe não perdem nenhuma chance
para colocar em cena, mesmo que de forma sutil, os detalhes dessa
forte conexão dos personagens com aqueles que os criaram no passado.
Victor
está sempre com um adorno em vermelho vivo remetendo às roupas que
sua amada mãe costumava vestir. E nos momentos derradeiros, começa a
repetir as mesmas ações cruéis que tanto desaprovava que seu pai
fizesse, especialmente naqueles a quem deveria amar e cuidar.
Ao
finalmente dar vida a sua Criatura após tanto esforço e vontade, o
Criador se vê perdido. Como uma criança que ganha o brinquedo que
tanto pedia, ele não sabe mais o que fazer com ele e nem mais o que
perseguir.
Em uma
representação de muitas figuras e momentos da humanidade,
Frankenstein só se arrepende de seus feitos inovadores e terríveis
após eles estarem, enfim, concluídos e impossíveis de serem
alterados ou cancelados. Um caminho sem volta da tecnologia e de
como ela afeta o próprio Homem.
Carregando em si as críticas e altos padrões com que seu próprio pai
o machucou na infância, Frankenstein anula qualquer carinho real
para o inocente ser pelo qual é responsável por ter trazido a vida
de forma tão medonha.
Jacob
Elordi (Euphoria) comove e espanta com uma Criatura/Monstro mais
fiel ao livro de Mary Shelley do que vemos em muitos anos nas telas.
O personagem inicia com gestos delicados e desajeitados. Com toda
sua pureza e simplicidade, como de um recém-nascido, logo se torna
uma força brutal.
Tamanho abandono e a ausência do mínimo afeto e da humanização que
deveria Victor, dar à sua Criatura, afloram então, a raiva do
cientista crítico e decepcionado, e logo, também seu medo pela
tentativa de revolta do homem feito com pedaços de outros a quem ele
aflige.
Desde o
livro de 1818, o “monstro de Frankenstein” nunca foi um ser de puro
mal sem compreensão, ou mesmo sem inteligência. Ainda que cometendo
crimes bárbaros, sua humanidade e sentimentos de bondade são até
maiores do que em muitas pessoas “inteiras” que vemos por aí;
contudo, o filme de 2025 dá mais tempo para o público compreender a
formação de sua índole, como ele aprendeu sobre o mundo, sobre os
homens e toda as suas ações boas e cruéis que eles fazem uns com os
outros.
Recebendo o tão desejado carinho e ensinamentos por alguém que não
consegue se espantar por sua aparência e natureza tão diferentes, a
Criatura passa de uma experiência frustrante a seu Criador, para se
tornar um homem com vontade de conhecimento sobre si próprio e sobre
como ajudar aos outros pelos quais tem afeto. David Bradley (da saga
Harry Potter) junto com a Criatura de Jacob Elordi entrega algumas
das cenas mais emocionantes do longa.
E como
todo novo integrante da humanidade, a Criatura logo descobre (ou
relembra) além das maravilhas e bondade carinhosa, o lado vil do ser
humano, seu preconceito e da natureza em que ele está inserido e
modificando. A trama segue cobrindo aspectos do sentimento de
solidão, desilusão com os outros e com si próprio.
A obra
atravessa temas como inveja, ciúme, o vício de desafiar a morte e a
eterna vingança entre inimigos que deveriam se apoiar.
Sempre
com ambientes e estética inebriantes, e um ritmo de ação de um filme
impactante e poderoso como seus personagens, Frankenstein (2025) é
mais do que um conto de uma criatura morta trazida à vida pela
ciência. É sobre as facetas da humanidade em todas as suas
variações.
Com uma
adição muito inteligente de Cristoph Waltz (Bastardos Inglórios e
Django Livre) no novo personagem Harlander, a trama ganha ainda mais
rostos que mostram que a obsessão do Dr. Frankenstein na verdade é
algo compartilhada por muitos outros. Cada um com suas respectivas
necessidades e ambições pessoais.
Mia Goth
(Pearl e MaXXXine) segue com uma adaptação da figura da Elizabeth
que desperta fortes emoções tanto no Criador quanto na Criatura, com
sua virtude um tanto quanto desmedida e sedutora para um trio de
personagens.
O
“Monstro” de Victor tem toda a doçura de uma alma nova, abandonada e
bem cuidada por um amigo idoso improvável, mas também o uivo brutal
dos lobos com que teve que lutar com força sobre-humana na natureza,
além da posse da mesma determinação interminável do cientista que
fez.
Se no
livro de Mary Shelley não ficou claro para alguns, o filme de Del
Toro reforça que somos todos Frankenstein, tanto o Criador quanto a
Criatura. Produtos dos indivíduos que participam de nossa criação,
carregando os atributos daqueles que um dia amamos e dos que
desprezamos no início de nossa formação.
Assim
como a Criatura de Frankenstein, montada a partir de muitos corpos,
o filme nos envolve com as visões e lados da humanidade, nunca
unânimes ou únicos. Um prisma de ações, cobiças e emoções que se
modificam, se arrependem e buscam redenção enquanto há tempo.
Fonte:
Adoro Cinema
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